Estamos em novembro de 2024, dólar batendo a perigosa faixa de R$5,80 e muita gente volta a questionar a dolarização da carteira.
A cotação USD/BRL não atingia essa faixa próxima aos R$6,00 desde a pandemia em 2020. Definitivamente, a fragilidade das contas públicas brasileiras, e a falta de ações claras por parte do governo em medidas de contenção de gastos são os responsáveis do momento para este rally de desvalorização momentâneo.
Porém, há de se destacar que a variável (no economês) Taxa de Câmbio, é de longe a mais imprevisível das variáveis econômicas. Durante meus 5 anos de graduação em Ciências Econômicas na UFSC, vi em diversas oportunidades, modelos econômicos e econométricos falhando na tentativa de previsão da Taxa de Câmbio. Estes 5 anos de estudos em Ciências Econômicas, me serviram para entender que ninguém sabe, ou pode saber, o que vai acontecer no futuro em uma economia. Tendo dito, a profissão de Economista chefe é a mais inútil que existe.
As moedas e suas cotações perante outras moedas, o chamado Forex (Foreign Exchange Market), são influenciadas por diversos fatores, por isso é muito difícil tentar qualquer tipo de previsão em Taxa de Câmbio. Váriaveis como Taxas de Juros locais, exportações, geopolítica, impressão de dinheiro entre inúmeras outras, contribuem para essas oscilações das cotações entre as moedas. Uma taxa de juros mais alta em determinado país por exemplo, tende a atrair mais capital de investimento em carteira, logo mais investidores vão querer comprar essa moeda local e essa moeda tende a se valorizar. Mas isso é apenas uma combinação entre inúmeras possíveis como exemplo.
Vamos para a parte prática, de investimentos. Quanto ter em ativos dolarizados na sua carteira?
Bom, o primeiro passo na minha visão é a análise dos seus custos e obrigações. Ou seja, seu passivo. Ele está em que país/moeda majoritariamente? Posso presumir que muito provavelmente sua situação deva ser parecida com a minha, e temos nossos custos e obrigações majoritariamente no Brasil, em reais (R$). Logo, seguindo a 1a lei de Warren Buffet – Não perca dinheiro – Uma boa parte de nossa carteira deve ficar no Brasil, e em reais. Vamos lembrar que de 2002 a 2010, a cotação USD/BRL saiu de R$3,80 para R$1,50, e se seu patrimônio estivesse totalmente em dólar, você teria visto uma redução patrimonial brutal, e com certeza se sentiria mais pobre, atrapalhando sua vida. Você simplesmente não precisa correr este risco. Desta forma, a preocupação inicial é fazer sua grana render em reais no Brasil, e para isso temos diversos instrumentos, como o Tesouro Selic e ações pagadoras de dividendos.
Tudo isso, para não correr o risco de um cenário (mais improvável mais totalmente possível) de apreciação do real e se ver ficando mais pobre no seu próprio país.
Mas é claro que temos que ter uma parte da carteira em dólar. A única coisa que sabemos é que: histróricamente a inflação brasileira é mais alta, em média que a americana. Para simplificar, vamos dizer que no Brasil é de uns 6% a.a. e nos Estados Unidos uns 2% a.a. Essa diferença de 6% para 2%, ano a ano no longo prazo, se caracteriza como a perda de compra do real perante o dólar, e a depreciação de nossa moeda internacionalmente, Considerando isso como a única verdade econômica, podemos sair com a conclusão que ok, vamos deixar a maior parte em reais, mas vamos ter algo em dólar para rentabilidade futura.
Eu sempre recomendo aos meus clientes uma exposição de 20% a 30% da sua carteira em ativos dolarizados. Estes ativos dolarizados, podem ser de Renda Fixa Americana (no momento pagando por volta de 4% a.a. em dólar) ou Ações em empresas com capital aberto nos Estados Unidos, Para isso temos os ETFs, as BDRs e as próprias ações dessas empresas se aberta uma conta no exterior.
Na hora de dolarizar, existem dois mecanismos executáveis:
– Exposição a moeda, porém com capital no Brasil
– Capital enviado ao exterior.
Para as pessoas mais novas, que ainda estão construindo patrimônio, eu normalmente indico a 1a opção, pois é mais rápida, fácil, líquida e menos custosa e burocrática. Você pode dentro de sua corretora no Brasil, comprar um ETF ou uma BDR da Google, e estar exposto totalmente a variação do dólar.
Para quem já tem um patrimônio mais robusto, e está mais preocupado com proteção, aí a segunda opção já faz mais sentido, Você estará não só se expondo ao Dólar, mas evitando o risco Brasil, o risco de um possível confisco, corrida bancária ou uma possível catástrofe política e econômica que impossibilite você de ter acesso aos seus recursos. Nessa opção, abrimos uma conta no exterior, pagamos os impostos de saída e levamos o capital para uma instituição americana, para aplicar nos ativos diretamente.
Para resumir, baseado na minha experiência e meus testes, não há alocação mais eficiente para um residente no Brasil do que uma combinação de:
– Renda fixa pós fixada (R$ e USD)
– Ações de valor (R$ e USD)
Sem complicações, sem risco de marcação a mercado, sem crédito privado e FII.
Fazer o simples é o que mais funciona.
João Guilherme Goulart